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O dia do julgamento

O dia começa cedo, o julgamento está marcado para 9h30. A noite foi longa, agitada, as horas arrastavam-se...
Greve do metro, por isso, saímos de casa mais cedo, tivemos medo de nos atrasar. Apanhamos um táxi. Apesar do motorista parar em todos os sinais vermelhos, chegamos ao Tribunal do Trabalho antes das 9 horas.
Aos poucos, o "elenco" daquele ato ia se completando. Aparentemente, estavam todos lá...
Alguns expectadores também apareceram, dois deles faziam parte dos funcionários do Millennium BCP que aceitaram o acordo de despedimento. Indignados, foram levar conforto ao ex-colega.
Ates do julgamento, uma última tentativa de acordo.
Mas, o Millennium BCP não quer acordo, portanto o julgamento será iniciado...
A porta se abre, o funcionário descartado acompanha seu advogado e eu o acompanho. Mas, quando vou entrar na sala, sou avisada que não posso entrar, afinal, sou testemunha!
É verdade, sou testemunha, mas também sou esposa, gostaria de estar ao lado do meu marido. Porém, infelizmente, saio e fico sem saber para onde ir.
Depois de algumas voltas pelo corredor, decido ir à sala das testemunhas, afinal, sou testemunha! Meio tímida, muito nervosa, mas decidida, entro na sala, que faz silêncio absoluto. Naquele instante eu só ouvia o barulho do coração...
Aos poucos, aquelas pessoas vão se sentindo à vontade e começam a conversar, rir, ler textos, trocar impressões, apontar para o texto como se tivessem certezas, onde outra pessoa teria dúvidas, etc.. Parecia que estávamos nos bastidores de uma novela ou algo parecido... até um senhor em pé contando piadas e gesticulando, enquanto outros dois riam, havia ali.
Assim, passamos a manhã ali naquela sala, onde as batidas do meu coração era o som mais alto que eu conseguia ouvir, e a tristeza e a angústia eram as minhas companheiras.
Infelizmente, sofro de ansiedade desde criança... Realmente, aquelas horas foram terríveis. Houve momentos que pensei que não fosse sobreviver, de tanto nervosismo, apesar de estar medicada.

Pausa para o almoço.

Eu não podia comer nada, pois havia algo preso em minha garganta, como se eu estivesse sufocada. Meu marido, acompanhou-me. Assim, ficamos andando nos arredores daquele tribunal enquanto os outros foram almoçar.
Na rua, seus colegas de trabalho, sem qualquer solidariedade, estavam em clima de festa. Nenhuma daquelas pessoas parecia constrangida. Acho que elas realmente acreditam que são melhores que meu marido e que seus empregos estão garantidos... COITADAS! O que fazem para manter um emprego... Até se esquecem dos valores. Se não fosse a mágoa, sentiria pena delas, principalmente daquelas que conhecia. 
Depois de tudo que vi meu marido sofrer, não ficaria surpresa se uma delas fosse a próxima vítima...

 De volta à sala das testemunhas

Dessa vez, havia menos pessoas, pois conforme eram ouvidas, deixavam o Tribunal, pois a ordem era que nenhuma testemunha ouvida poderia ter contato com as que não foram ouvidas.
Mas elas se encontraram na hora do almoço... Isso pode? Parece que pode. Ah! Telemóveis também eram permitidos... Ou seja, qualquer uma que saísse da sala de audiência, poderia trocar informações com aquelas que estavam ali na sala de testemunhas...
Por incrível que pareça, ainda havia um senhor a ler o bloco de textos,  até parecia que ele ia fazer uma prova importante, pois ele lia incansavelmente... Triste cena!
A médica psiquiatra foi chamada nesse período, mas ela não se encontrava na sala das testemunhas e nem em outra parte do tribunal. Fiquei muito decepcionada com sua ausência, pois, na minha opinião, ela era fundamental para explanar tudo que meu marido vinha sofrendo e quais as consequências de toda essa pressão para ele.
Sendo essa médica a profissional que diagnosticou e tratou por anos a depressão do meu marido, doença colocada em causa pelo Millennium BCP, não seria crucial marcar outro dia para ouvi-la?
Fica aqui a dúvida de uma leiga na área jurídica...
 
Assim, todos foram sendo chamados, até que na sala de testemunhas só restava eu...

Meu testemunho

Eram mais de 16 horas quando ouvi meu nome..
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Amanhã eu conto como foi o meu testemunho.
Boa noite!

Conceito de "Justiça" segundo a Igreja católica
 
 

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